Meu Diário
31/07/2012 11h32
POEMA "ELEGIA 1938" de Carlos Drummond de Andrade...sempre atual!

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, 
onde as formas e as ações no encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais, 
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual. 

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção. 
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze 
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas. 

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra 
e sabes que, dormindo, os problemas de dispensam de morrer. 
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina 
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras. 

Caminhas entre mortos e com eles conversas 
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito. 
A literatura estragou tuas melhores horas de amor. 
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear. 

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva. 
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição 
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
 


Publicado por MARCIA TIGANI em 31/07/2012 às 11h32
 
31/07/2012 11h18
CONVITE PARA LANÇAMENTO DE MEU LIVRO " CAMINHANTE:PROSAS E RIMAS AO VENTO" NA BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE


Publicado por MARCIA TIGANI em 31/07/2012 às 11h18
 
20/07/2012 11h24
CONVITE PARA LANÇAMENTO DE MEU LIVRO " CAMINHANTE:PROSAS E RIMAS AO VENTO" NA BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE


Publicado por MARCIA TIGANI em 20/07/2012 às 11h24
 
13/07/2012 21h55
LANÇAMENTO DE MEU LIVRO SOLO NA BIENAL PELA EDITORA SOMAR

 

 

    ESTAREI   NA  BIENAL   NESTA  DATA,NO  LANÇAMENTO   DE  MEU   LIVRO  SOLO   ("CAMINHANTE:PROSAS E   RIMAS  AO   VENTO")   COM  A  EQUIPE  MARAVILHOSA  DA   EDITORA  SOMAR!


Publicado por MARCIA TIGANI em 13/07/2012 às 21h55
 
07/07/2012 10h29
AMAR

AMAR


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

              CARLOS  DRUMMOND  DE  ANDRADE

 


Publicado por MARCIA TIGANI em 07/07/2012 às 10h29



Página 7 de 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9 «anterior próxima»


Imagem de cabeçalho: jenniferphoon/flickr