ANTIGA


Sinto-me antiga pois não amo pela metade
meu vício é ser cachoeira, é ser densidade
e no abismo desse meu sentir
quero ser a primeira a experimentar o amor
como folha verde a brotar no inverno
ou como a esperada chuva depois da estiagem.
Não tenho rima: antes tenho idade
um tempo tão arcaico que me impõe a métrica
e por ser antiga quero entender a noite
e em silencio , contar estrelas
guardando em poesia o que me é só lamento.
Às vezes esqueço que já sou antiga:
quero ser menina a desafiar o vento,
quero o borbulhar das horas tenras.
E na amplitude do verbo me transportar no tempo:
cabelos em desalinho,voltando a ser botão
coração descompassado,dobrando esquinas ,
no pulsar das horas,sem qualquer cansaço,
a querer a vida,morrendo de paixão .


Marcia Tigani-maio 2010