CINERÁRIO
IMG-20210314-WA0045
CINERÁRIO
(Para Mariele Franco)
Morrer sem grito
cingida e inerte
Liturgia de árvore
quase infinita
Sibila a voz, o canto
a arritmia
Vida salga a carne
e a fagocita
Morrer sem mistério
sem exantema
Silenciada a resina
Que viscosa adere
à pele e escorre fria
e lateja
em sina, como a mão
que a fere
Matar a palavra úmida
que da boca verte
Matar a infância, o verso
o riso
Matar a idéia, a pedra
o signo
Matar a estrada
ou luz em exercício
Viver para relembrar
a terra, as cinzas
O que ainda sobra
Do caule esmigalhado.
Viver para contar
a geométrica forma
da ausência, ou o grito
espesso do amor silenciado.
Marcia Tigani
MARCIA TIGANI
Enviado por MARCIA TIGANI em 15/03/2018
Alterado em 14/03/2021