Balada para Evaldo
UM POEMA DE Marcia Tigani PARA O LIVRO 80 BALAS, 80 POEMAS
BALADA PARA EVALDO
O tempo plasmou em mim um poema
Feito sobre asfalto em Guadalupe
Tempo que se desfaz entre dedos
E escorre como seiva e réstia de luz.
Sobre o chão onde tua cabeça pende
Pressinto minha própria morte:
Teu corpo _ fragmento de rocha dura_
Simétrico, silencioso como resíduo.
Como exprimir a destilação da hulha
A cena final reconstituída
A substância negra decomposta
E aniquilada por tantos fuzis?
Nosso tempo ressecado , Evaldo,
esterilizou a terra e os afetos
Congelou no ar cada abraço
Sob frios pilotis de viadutos.
Resta- me esculpir em verso e pedra
Teus sonho interrompido
E na turbulenta voragem do vento
Também morrer aos poucos.
MARCIA TIGANI
Enviado por MARCIA TIGANI em 22/06/2019