Textos

Elegia II


Os mortos esvaem-se
e partem em naves
que chegam sem aviso.
Abrem-se clareiras no solo
de onde se supõe
estarem   seguros
De onde se supõe
sustentados por algum poema
  protegidos de  espantos
e da precariedade do ar
À nós  a morte não  avisa
o tempo de chegada à outra margem:
Agoniza-se ou se desligam
sinais vitais obrigatórios
como rituais em  desalento.
Lá se vão os mortos
assim exauridos, assim prosa
embevecida de alguma poesia,
e de  mistérios indevassáveis
e vertigens inoportunas
Partem  como canto
sempre inacabado
com carências de entendimento
  das ardências do dia.

     Marcia Tigani
MARCIA TIGANI
Enviado por MARCIA TIGANI em 08/07/2020
Alterado em 12/03/2021


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