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Calundu
Calundu

Mãe do dia, Iami
acorda do teu sono profundo

No alto  brilha Guaraci

Inunda-se a floresta
de raios dourados

Acorda do  sono secular, Iami

Da copa do Pau-rosa mais alto
avista-se alguma esperança?

Por verdes cipós trançados
esgueiram-se curumins assustados
.
Espia, mãe, para além
da outra margem do rio:

Não ecoa estranho ronco?

E não é  murmurio doce.
E não é a voz do Iguassu.

É  estrondo invasor
ziguezagueando  a mata

É som dolorido
de madeira  ao chão

Do cafundó da selva
ecoa o estrondo de Tupã
a despertar do repouso de rei

Debulha, pai, tuas lágrimas
em forma de tempestade
pela terra  devastada

Faz  dia virar noite
Faz  o aguaceiro da ira
envolto em  calundu

Expulsa a motosserra
dessa  aldeia perdida
de pau- brasil.

    

    Marcia Tigani
MARCIA TIGANI
Enviado por MARCIA TIGANI em 14/07/2020
Alterado em 12/03/2021


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Imagem de cabeçalho: jenniferphoon/flickr