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           “ Nos qui hic sumus pro te expectamus”

Mal terminara de descer à cova
o corpo preparado do defunto
(morrer ainda não conjugado)
  mulheres  de véu preto
a debulhar lágrimas secas
defronte a  lápide do pai
olhavam - se de soslaio

O genro(  chupim por natureza)
“  filho homem que não tive”
dizia o falecido sobre o gajo
acostumado à mamatas, o farrista
comandava o trio das enlutadas .
Irmãs dissonantes , desunidas :
a beata , a ardilosa e a visceral

Na sala já esvaziada de mobília
à  meia- luz, silêncio e vento
o  genro consultava saldos
A beata fingia rezar alto
enquanto  vasculhava  gavetas
em busca de algo e mais algo

A ardilosa, dita filha preferida
do velho pai desencarnado
em gestos torpes, um pastiche
sorrateira procurava  jóias
Tomar posse da riqueza :
  sonho de uma vida inteira

A visceral  perdida em pensamentos
ladeada pela mesquinhez e pelo sórdido
retira da bolsa papel timbrado
recebido e subscrito por juíz :
Dívidas, intimação , cobranças
arresto total de bens  do espólio
Tudo alí  às claras , no desfecho

Nada para uma, zero para outra
À preferida um  abraço
Para o genro uma banana
À beata ,bíblia e terço
Ao compadrio um bilhete:  
Nós que aqui estamos por vós esperamos  .

         Marcia Tigani