ZARZUELA
Esqueça job, timing , múltiplas camadas
No prato raso ,branca encarnação do paraíso
Eros mostra uma face (outra face obscura )
Tece a linha o desejo gástrico da fome ancestral
Da Catalunha à Andaluzia que rescendem à alho
O azeite em jorro banha a carne
Enquanto o touro vence o toureiro :
O sangue escorre em peito aberto
O animal segue saga dos mitos inauditos
Inominado, mas touro que em sua envergadura
é símbolo de um deus indestrutível
olha de cima abaixo sua caça
(A visão mais perfeita da pequenez humana)
Nas montanhas rumina erva , raiva ,vingança
E estanca em La Mancha apenas ao ouvir o palmilhar
Do cavalo de Sancho Pança e seu senhorio , o louco
Aquele que acredita existir em algum lugar o justo e o bom
Aquele que acometido pela sífilis deformou sua visão do mundo
Pelas vielas de Extremoz à Castilha a cumparsita
Da figura bruta da raiz ibérica , nas conquistas Mouras
De filigranas nos brincos das mulheres
O touro , o cavalo e o homem alucinado
Todos tem fome de que , todos anseiam o que ,
E tudo é mesmo devaneio : a carne ao toureiro, capim verde ao cavalo e Dulcineia
Deita se alho frito na panela, pertences , pimentão
Lulas, peixe, mexilhão abraçam se enamorados
Na paellera de ferro enquanto miçangas
Leques, babados , adornam corpos de mulheres
Seda negra bordada em xales envolvem escápulas
A força do sapateado flamenco é de sedução e guerra
O tablado das eras cheira a alho frito
Instiga-se instintos dos homens embebedados
O touro, o cavalo e o homem alucinado
Caminham em silêncio, lado à lado
*Marcia Tigani*
MARCIA TIGANI
Enviado por MARCIA TIGANI em 20/04/2025